CAPITULO II
¾
...que dor. Minha cabeça lateja de maneira que
... espere... estou vivo... se esta doendo algo é porque estou vivo, ... mas
onde estou? ...
Danny
confabulava consigo mesmo, meio aturdido e meio perplexo.
Aos poucos a vista foi se acostumando a escuridão do lugar.
Esforçou-se e
pôs-se de pé. Olhou em volta e nada...
Um buraco na
montanha e nada mais.
¾
Como saio daqui? As paredes são íngremes.
Encontrou uma
fenda meio escondida, meio encoberta de pedras. Tentou ver alguma coisa através
da abertura. Nada.
Limpou a
entrada e passou por ela.
¾
Pior não vai ficar. Eu acho.
Foi andando de
vagar e se acostumando a penumbra. A passagem era mais comprida que ele
imaginou no inicio. Aos poucos se revelou num corredor um pouco gasto e mal
cuidado. Na verdade abandonado. Muitas pedras estavam espalhadas por causa dos
constantes desmoronamentos na montanha. Mas dava para passar com um pouco de
esforço e boa vontade. Começou a perceber certos detalhes antes não notados.
Parecia padrões de escavação.
¾
Que loucura. Estou delirando e comparando essa
caverna com um corredor. Será que alguma civilização antiga morou aqui dentro.
Índios????
¾
Vou ver até onde da para ir. Mas com certeza é
uma fenda natural. Tendo um vale tão fértil por que viveriam aqui em cima.
E a caminhada
continuou.
E acabou.
Acabou no nada. Uma parede de rocha era o fim do túnel.
¾
Sabia. É uma caverna sem continuidade. Era só
uma fenda natural sem saída.
Mas como as
dores ainda persistiam resolveu descansar um pouco.
Ao sentir-se
melhor, pegou na mochila alguns lanches e matou a fome e a sede que já lhe
estava incomodando. Porem não abusou, não sabia ainda como sairia daquele
buraco.
¾
Deve ter alguma outra caverna desobstruída. Se
não encontrar uma terei de escalar a fenda, mas é tão íngreme...
Ao se
levantar, por causa das dores causadas pelas escoriações, perdeu um pouco o equilíbrio
e apoiou-se na parede.
Na parte da
parede de rocha natural onde pôs a mão, notou um símbolo quase apagado.
Não sabia o
que significava.
Isto fez com
que se lembrasse da pergunta anterior que fez a si mesmo, “sera que realmente
alguma tribo já havia morado naquela caverna?”.
Agora ele
tinha certeza de uma coisa. Não era uma caverna nova aberta pelos tremores de
terra. Alguém já havia passado por ali antes. E a muito tempo pelo visto e pelo
estilo do sinal.
Notou também
uma ranhura ao redor do símbolo.
Ao tentar
limpar o símbolo com um pouco mais de força aconteceu...
O símbolo
afundou-se na rocha.
Não aconteceu
mais nada.
Ele ficou
olhando boquiaberto e sem entender mais nada.
Mas ruídos
começaram a surgir do nada.
Mecanismos a
milhares de anos adormecidos despertaram a vida. Se é que podemos dizer que
mecanismos tem vida.
Uma fenda
apareceu na parede.
Não era larga.
Apenas um filete escuro. Mas de repente a fenda começou a alargar-se e para
deslumbre de Danny a fenda tornou-se uma porta de dimensões razoáveis.
Guinchavam maquinas forçando a parede para o lado.
Quando chegou
ao seu limite pelo que Danny concluiu havia uma abertura que por ela poderia
passar uma van.
Esperou
confuso.
Não sabia o
que fazer.
O medo
misturado a curiosidade. A incerteza ...
Mas a
curiosidade e o desejo de sair daquele lugar venceram.
Entrou
vagarosamente. Pé ante pé. Ao se deslocar no novo ambiente, novamente a
surpresa...
Luzes se
acenderam. Não conseguiu ver os pontos de entrada da luz. Demorou ate acostumar
a vista a luminosidade.
Um ambiente de
rocha natural. Tirou da mente a tribo indígena e ficou imaginando os incas,
astecas, ou ate mesmo outras civilizações antigas... qual delas teria projetado
uma fechadura destas e um sistema de iluminação destes...
Continuou
andando...
Esteve próximo
ao desejo de voltar a caverna original mas sabia que teria dificuldades para
escalar a parede íngreme, ainda mais que estava exausto e ferido.
Continuou
andando.
Outra parede
surgiu mas agora tinha conhecimento do processo de abertura, mas o que
encontraria do outro lado da parede?
Não era medo,
antes um desconforto pelo desconhecido.
Procurou o
símbolo já conhecido na mesma altura anterior e não foi difícil encontra-lo.
Este estava bem mais conservado. O que o fez perceber que toda a jornada
anterior depois da porta que havia deixado para traz trazia um aspecto bem
melhor que a caverna inicial.
Parou,
respirou fundo e pressionou o local do símbolo.
Da mesma
maneira nada aconteceu de imediato. Mas mecanismos começaram a produzir ruídos
do outro lado da parede. E lentamente a parede deslizou para o lado...
O escuro
apareceu. Mas sabia que logo luzes se acenderiam como da outra vez. Esperou.
Aconteceu de
acordo com o esperado...
Mas as luzes
anunciaram algo estarrecedor...
¾
Nada ... não compreendo...
Era isto
mesmo. Atrás da parede de pedra não havia nada. Um espaço vazio não maior que a
cozinha de sua casa e toda de pedra, ...
Mas o chão...
Reparou que o
chão era de aço polido. Estava todo coberto de pó mas dava para ver que era de
material lizo, pelo menos semelhante ao aço. Andou alguns passos e o solo se
deslocou. Começou a afundar. Não teve tempo de saltar. Ficou parado e viu a
abertura por onde passara se fechando. Estava preso. E pior. Mais fundo ainda e
nem sequer sabia onde estava.
O medo e o desespero
ameaçaram tomar conta de sua mente. Mas forçou-se a manter-se calmo. Pelo menos
o mais calmo possível.
Não adiantaria
nada ficar desesperado ou com medo. Isto iria a algum lugar. Ninguém constrói nada
sem um objetivo.
Qual seria o
deste elevador?
As duvidas
foram dando lugar a curiosidade.
Sentia-se
agora curioso e meio eufórico.
Havia
encontrado algo nas montanhas, será que sobreviveria para contar?
¾
Vão dizer que estou louco. Acho mesmo que devo
estar desacordado e sonhando. Quando acordar vou morrer de rir de mim mesmo.
Mas tudo que
desce uma hora chega ao fim. Demorou mas chegou. Parou e uma abertura se fez na
parede frontal.
Luzes se
acenderam...
¾
Estou louco mesmo ou sonhando..?
Uma sala de
dimensões consideráveis.
E agora o que
fazer. Sair andando ou tentar voltar para o pavilhão anterior e voltar a
caverna da queda?
As duvidas lhe
martelavam a cabeça.
Saiu e ...
¾
Seja o que Deus quiser. Não conseguirei subir as
paredes daquele buraco mesmo.
Saiu andando
lentamente. Procurava se manter próximo as paredes.
Viu numa delas
o mesmo símbolo que abriu a parede na caverna. Apertou-o e neste não se fez
esperar nem um segundo. Na parede se abriu uma porta. Do outro lado uma luz se
acende e revela outra sala de dimensões menores. Porem não estava vazia.
¾
Maquinas. Para que será que servem? Não tem
ninguém aqui.
Chamou para
ver se alguém aparecia. Nada aconteceu. Começou a notar melhor os detalhes das
maquinas. Encontrou mesas de comando e vídeos de controle. Para que serviam?
Quem as construiu?
¾
Será que faram os gringos para espionar nosso
país?
¾
Mas não tem ninguém aqui.
Chamou de novo
e começou a recear ser uma base abandonada de algum país estrangeiro. Seguiu
andando e passou a outra sala.
Semelhantemente.
Maquinas e mesas de controle. Mas aqui agora havia painéis diferente. As telas
de controle eram muito mais vastas. Algumas até grande demais.
Chamou mas de
novo não foi atendido. Nada. Atravessou outras salas.
¾
Será que isto não tem fim? Não tem ninguém mas
esta tudo limpo. Como pode ser possível?
Continuou
andando e encontrou uma sala diferente.
¾
Cama. Um dormitório. Bem que estou precisando de
descanso. Mas e agora? De quem é este lugar? O que faço?
Perguntas e mais perguntas sem
respostas. Mas se não tem dono... é meu. Achado não é roubado...
¾
Vou me deitar para descansar um pouco.
¾
E se o dono aparecer direi que chamei e ninguém
respondeu. Que estou perdido. Que sofri um acidente e preciso de ajuda para
voltar a superfície para voltar para casa. Veremos.
Sentou-se na
cama, desmaiou. Estava exausto. Não saberia dizer quantas horas dormiu.
Ao acordar...
algo diferente.
Havia um ser
estacionado no quarto. Parado ali a não se sabe quanto tempo. E olhava em sua
direção.
¾
Desculpe-me. Eu não queria invadir. Eu estou
perdido e preciso de ajuda...
O robô não
respondia nada. Nada inteligível pelo menos.
Indicou uma
direção e Danny receoso foi com ele. Chegou a uma das salas pelas quais
passara, ou que se parecia com uma delas, e o robô parou.
Indicou uma
poltrona, soltou alguns sons que Danny não entendeu. Mas...
¾
Esta me entendendo? É para que eu me sente ali?
O que vai fazer?
O robô
indicava a poltrona sem pressa e sem irritar-se com a demora de Daniel.
¾
Vou sentar, espero que entenda que não vim fazer
nada de mal.
Sentou-se e
esperou. Não sentiu nada além de um formigamento. Sem saber suas ondas cerebrais
foram analisadas. Suas recordações. E o mais importante para o robô. Seu
idioma.
Agora o robô
falou com ele.
¾
Quem é você?
¾
Daniel é meu nome... estou perdido...
Conferia com
as reações conhecidas pelo robô.
¾
Como chegou aqui?
¾
Estava escalando a montanha, teve um
deslocamento de pedras e eu escorreguei. Cai num buraco, e acordei numa
caverna... descobri este local por acaso. Onde estou?
¾
Aqui. Você esta aqui.
¾
Não é isso. Este local esta debaixo da terra.
Como é possível? Quem construiu isto aqui?
¾
Meus senhores construíram esta base e tudo mais
por aqui. Você veio da superfície. Isto nunca aconteceu antes.
¾
Como assim?
¾
Nestes milhares de anos desde que estou aqui.
Após meus senhores serem absorvidos um após o outro, até o ultimo. Tudo esteve
em completo silencio. Nada veio da superfície. Algo na segurança deve ter
falhado. Vou verificar.
¾
Seus senhores foram absorvidos? Como assim?
Morreram? Milhares de anos? Quem eram eles?
¾
Vieram ... não é você quem faz as perguntas. Sou
eu.
¾
Mas...
O robô ficou
em silencio. Uns dois minutos.
¾
Já verifiquei as causas do incidente. Os dutos
de exaustão fazem cair algumas pedras e estas por sua vez derrubam outras. E
nestes milênios descobriram uma caverna natural na montanha. Mas consertarei
isto rapidamente. E não voltarei a cometer o mesmo erro novamente.
¾
Como reparar o erro?
¾
Fecharei a caverna natural de modo a não mais
cair nada lá.
¾
E eu? Como sairei daqui?
¾
Não sei se sairá. Ainda vou receber orientação
sobre isto.
¾
Orientação? Como assim? Preciso sair daqui.
Preciso voltar para casa.
¾
Ainda receberei instruções a este respeito. Não
se preocupe antes da hora.
¾
Quem vai te instruir se seus senhores já
morreram?
¾
O mestre. Ele decide tudo. Venha.
¾
Não. Espere. Me responda...
¾
Venha.
Saiu andando
ou melhor flutuando. Daniel não havia percebido ainda mas o robô não andava,
flutuava.
Foram ate uma
esteira rolante, e esta os levou a um salão enorme e neste maquinas sem limite
de imaginação. Daniel exclamou;
¾
Que coisas maravilhosas. Nunca pensei que
existissem maquinas e computadores tão grandes...
¾
É o mestre. Esta dormindo a milhares de anos.
Mas já o acordei. Porem ele ainda esta fazendo backups e upgrades sobre a
situação atual de dentro da base e colhendo informações do mundo a nossa volta.
¾
Do mundo...
¾
Ele esta ao mesmo tempo se carregando de energia
através de nossos geradores que você esta vendo ao nosso redor. Mas também já
começa a buscar informações sobre tudo que existe em meus bancos de memoria e
de câmeras de segurança espalhadas. Dentro da montanha. Na superfície. Nas
montanhas e ao redor do planeta...
¾
É inacreditável. Como pode ser tudo isto e ao
mesmo tempo. De onde vieram seus criadores. Que tecnologia incrível...
¾
Se o mestre permitir lhe darei estas informações
depois. Mas venha. O mestre manda que te leve de volta a um aposento. Porem ele
manda que lhe leve a um melhor do que o que você escolheu. Por acaso você
escolheu uma cela, um local para prisioneiros.
¾
Mas como ela era tão confortável?
¾
Aquilo não era confortável era aceitável para
suprir a vida de prisioneiros...
¾
... não entendo... aqui vocês já tiveram
prisioneiros? Como assim?
¾
Era no inicio de tudo... os senhores tiveram que
trazer com eles alguns inimigos capturados em combate antes de virem para esta área.
Mas chegando aqui ficaram isolados e mantiveram os cativos com vida até que o
tempo os levou.
¾
Morreram. É isto.
¾
Nosso, quer dizer, dos senhores, conceito de
morte é diferente do seu. Quando estão para descansar do fardo da matéria, eles
se cristalizam, mas esse processo só foi realizado com os Senhores e não com os
prisioneiros.
¾
Incrível.
¾
Porem é mais útil do que deixar de existir. Pois
suas consciências passam para o mestre. E assim eles vivem para sempre.
¾
Não posso crer em algo assim.
¾
O conceito de mentira a que você se refere não foi
programado em mim. O que falo. Falo. Se me negar a dizer algo não poderão tirar
a força de mim. Pois eu me alto destruiria.
¾
Fantástico.
¾
Mas útil. Guardaria meus segredos e destruiria
meus agressores.
Chegaram aos
aposentos. Danny entrou depois do robô e quase caiu de costas.
Conforto sem
limite. Já havia roupas no estilo da que ele estava usando porem limpas e
novas. Olhou para os trapos rasgados que estava usando e lembrou-se do cansaço
e da fome. Viu uma mesa com frutas e algo parecido com carne assada e comida
trivial.
¾
Ali você poderá tomar um banho. Alimentos estão prontos
de acordo com o que foi lido em seu inconsciente... volto depois. Descanse.
¾
Grato. Estou mesmo morto de fome. E cansaço.
¾
Não. Você não esta morto.
¾
É modo de dizer...
¾
Não entendi mas depois conversamos. Voltarei
mais tarde quando acordar.
¾
Ate mais tarde então.
Daniel nem se
preocupou com o banho. Lançou-se na mesa de comida desesperadamente.
Após se saciar
foi se banhar. Nem se deu conta do que o robô lhe revelara. Que tinham extraído
as informações de seu inconsciente... de sua mente. Foi para o banho. Demorou
quase uma hora descansando no chuveiro maravilhosamente agradável. E depois se
lançou sobre uma cama deliciosa. Desmaiou de cansaço.
Não se deu
conta de quanto tempo levou todo o processo desde a queda ate acordar do sono
do descanso. Mas foi um longo e desesperado tempo para quem estava a sua espera
em casa...
CAPITULO III
Comentários
Postar um comentário
Obrigado por deixar sua opinião.